Mil Escritos

A arte-educação em espaços expositivos


Professora Mestre Priscila Chisté



A Arte precisa ser conhecida e valorizada por todos os indivíduos. Essa produção humana é parte integrante do desenvolvimento da humanidade, capaz de revelar o contexto histórico e cultural trazido através de sua materialidade. A Arte é produto do trabalho do homem e por suas particularidades é capaz de suscitar no receptor, momentos de reflexão que o fazem pensar sobre sua vida, sobre o mundo e sobre o outro. Esses momentos reflexivos podem ser intensificados pela mediação do outro. E quem são os outros? No espaço expositivo, na maioria das situações, os sujeitos dessa mediação são o professor, o arte/educador do espaço expositivo (muitas vezes chamado de monitor) e os alunos. Sendo assim, todos são importantes no processo de ensino/aprendizagem da Arte, cabendo a todos torná-lo significativo.

Como coloca Millene Chiovatto, em seu artigo “O Professor Mediador”[1], mediar é estar entre, não apenas como uma “ponte” que interliga extremos, mas é interagir com as demandas dos extremos e outras tantas, construindo um todo significativo. Segundo a autora mediar é responder aos estímulos, tanto do conjunto de conteúdos a ser trabalhado, dos estudantes e também do mundo no qual todos se inserem, incluindo aí variáveis que apenas o professor em sua realidade é capaz de compreender. Significa cumprir, em síntese, duas operações distintas: tornar o encontro (com a obra, com a técnica, com o conhecimento e consigo próprio) potencial e articular os conhecimentos derivados desse encontro, interligando-os numa construção coletiva. Portanto, é fundamental que o professor conquiste um conhecimento que o faça sentir-se seguro frente ao conteúdo a ser tratado, mas este conhecimento não deve ser usado para justificar a importância ou o valor da obra de arte, e sim para subsidiar o desenvolvimento das percepções, interpretações e reflexões sobre o objeto artístico.

Entendemos como fundamental a participação do professor nas atividades realizadas no espaço expositivo. Não cabe somente ao arte/educador do espaço expositivo explicar e conduzir a visita. Cabe também ao professor dinamizar o fornecimento de informações para que os encontros façam sentido, estimulando a reflexão sobre a percepção e a interpretação dos alunos, favorecendo a recriação do objeto (plasticamente e intelectualmente), podendo, assim, avançar em questionamentos estéticos, juízos de valor, sistemas e critérios críticos de arte. Deste modo, o aluno/visitante irá sentir-se confiante para discorrer sobre o assunto, sabendo da importância e pertinência de seu parecer pessoal, reconhecendo que cada postura acrescenta algo significativo ao saber da Arte como um todo, reconhecendo nesse processo o seu papel também na mediação.

Aliado a isso, é preciso que o professor estimule os alunos para a visita. Visitas preparadas a partir de atividades dinâmicas relacionadas à temática da exposição, tornam-se muito mais significativas para os alunos, pois, além deles  poderem compartilhar seus conhecimentos de mundo, eles trarão para o espaço expositivo, conhecimentos relativos as obras do artista expositor. Quando estimulados para a visita ao espaço expositivo, os alunos poderão também elaborar questionamentos previamente movidos pelo desejo de aprofundar seus conhecimentos, trazendo-os no momento da visita. Deste modo, o aluno deixa seu lugar de simples receptor de informações e passa ser também um mediador de conhecimentos.

Da mesma forma, cabe ao mediador de mostras artísticas, adequar sua atuação em relação ao grupo de visita. Nem todos os grupos são iguais, seja em termos de faixa etária, seja em termos de interesses gerais. Normalmente grupos de escola virão com seus interesses definidos a priori pelo professor. Mesmo assim, muitas vezes percebe-se, no espaço expositivo, que a atenção do grupo é desviada do caminho originalmente traçado, obrigando o mediador a estabelecer novas relações.

Sendo assim, é responsabilidade tanto do mediador, quanto do professor, tecer uma trama articulada entre os interesses previamente traçados e os imediatamente despertados, conferindo unicidade, coerência e significância ao contato com as obras de arte.

É importante colocar ainda que, nem sempre são alunos e professores que visitam exposições. Associações de idosos, projetos que abrigam crianças em risco social, crianças com doenças graves, entidades que colaboram para o tratamento de pessoas com distúrbios mentais e também aos grupos não-escolares articulados por instituições variadas, iniciam o contato com a arte a partir de visitas a espaços expositivos. Essa aproximação favorece a percepção das particularidades que envolvem os objetos artísticos, ampliando o universo de interesse e conhecimento, que são alcançados a partir das mediações estabelecidas principalmente pelo arte/educador do espaço expositivo que, se ajustando a cada turma, estimula interpretações significativas aos questionamentos realizados por ele, propiciando que os visitantes, seja uma turma da escola ou um grupo não-escolar participe efetivamente do seu processo educativo, ampliando substancialmente suas visões de mundo, de si próprio e de seus pares.

Sabemos que é preciso também que a escola e o espaço expositivo reafirmem seus papéis na sociedade. Cabe aos espaços expositivos buscarem junto aos seus setores educativos aproximar os objetos artísticos do público, efetivando sua função educativa, cultural e social, promovendo à cidadania e o acesso e a apropriação dos bens culturais constituintes da nossa história.

Do mesmo modo, cabe a escola dar condições para que os indivíduos se apropriem das produções científicas e artísticas elaboradas pelo homem. É função da escola proporcionar momentos em que os indivíduos possam se apropriar dessas produções, para se reconhecerem como integrantes do gênero humano, capazes de transformar suas realidades sociais, históricas e culturais. Na busca pela efetivação dos papéis da escola e do espaço expositivo algumas aproximações entre esses locais vem sendo realizadas. Principalmente através do contato entre escola e os setores que agendam visitas aos espaços expositivos. Porém, é preciso que ocorra uma parceria colaborativa entre essas instituições para que sejam proporcionados nesses locais vivências estéticas que busquem desde a preparação até o aprofundamento de tais experiências. Isso implica em proporcionar momentos intensos de encontro com a Arte que integrem um processo reflexivo.

O processo de entendimento e reflexão a partir da Arte é reiterativo, são idas e vindas pelo espaço expositivo e pela escola, dando continuidade a um ciclo de vivências estéticas que participam da formação sensível e crítica do jovem. Além disso, estabelecer parceria entre a escola e o espaço expositivo implica em também firmarmos uma parceria entre as pessoas que integram tais instituições, buscando, principalmente, alternativas para contribuir com suas práticas pedagógicas. 

[1] Artigo extraído do BOLETIM. Número 24 de Outubro/Novembro 2000.

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